quarta-feira, 30 de julho de 2008

Sombras de luz apagada

A parede estava nua de tanto branco, de tanta cal viva, que queima o tempo e tudo o que por ali passou. A porta estava fechada e podiam ouvir-se ainda as preces, sejam lá quais forem as razões, em vozes comedidamente cantadas em jeito de reza. O vento estava frio e o arvoredo balançava ao ritmo dos pássaros. O Sol estava de partida, mas não sem antes projectar as sombras de luz apagada ainda, a acender um pouco mais tarde, quando o escuro não quisesse deixar ver os degraus e o caminho.

Diagonais


O céu rasgou-se em raios
Espalhados em diagonal luz
Sobre a paisagem que anoitecia
Os ramos curvaram-se respeitosamente
O vento transformou-se em brisa
E a lua veio como sempre acontecia.

Divindades


Escuro estava a ficar o céu,e antes que o sol se fosse, ainda em queda livre por tráz do templo, ficou-me presa a imagem voltada a leste...entre a planicie e a divindade.

Espectro Celestial


Se assim pudesse eu pintar o meu olhar
E o firmamento a óleo de cores gritantes colorir
Deixaria no arco-íris os meus dedos navegar
Em pinceladas de sete cores a repartir
O espelho do universo que sou eu e o mar.

Espelhos de céu


Juncos frescos em tempo de estio
Águas mansas espelhos de céu
Correm nos meus olhos como um rio
E sobre o meu tempo cai um véu

E se o sonho, de nuvens vem vazio
No firmamento gélido de breu
A realidade canta-me em corrupio
Encharca-me o calor e lá vou eu

Mergulhar em nenúfares de um lago tardio.

Inclinado Sobre o Meu Olhar

Serpenteia a estrada debaixo dos pinheiros
Resinosos olhares levam-me e eu vou
Em perspectiva, ao final, no horizonte
Abre-se o tempo e o ritmo de caminhar...

Solitária no Areal Imenso


Longa extensão de areia,
Mar de ondas em novelos de espuma,
Acutilante Farol, como ameia
De um castelo, onde durma
O guardião da tua solitária esteira.
E o teu corpo esquecido abandonado
A fundir-se em nevoeiro e ocaso,
Despertou o meu curioso olhar.
Voyeuse em olhar parado,
Num tempo sem voz e sem prazo,
Que diga porque navegar…
Em bravo mar ou céu imenso e alado,
Ou no imenso areal húmido e sem par.

VIAGEM



Vou contigo
Dentro dos teus raios
Obliquamente luminosos
Vou contigo
Caminho sobre as águas
Deste rio que me atravessa
Vou contigo
Desfaço as mágoas
Esqueço a promessa
Olho de soslaio
Os tempos espaçosos
Vou contigo
E a copa das árvores
Em banho de luz
Abraça-me as palavras
E o sono
No sol que me seduz.

Leques de Luz


No escuro firmamento em que me dou
Abro os meus olhos em leque de luz
Chapéus invertidos a conter a chuva
E os sentidos a afunilar no peito
Não quero mais tudo o que não sou
Não quero mais o ouri falso que seduz
Não quero mais o pesadelo que me mova
Para fora de mim e deste meu jeito
Ou falta dele para existir...apenas
Não quero o escuro.
Quero a luz.
Quero expandir.
Quero ser.
FELIZ!

Céu Ardente

Quem acendeu o céu e o abriu a ferro e fogo sobre a minha cabeça?

Céu Novo de Chegar o Verão


A fingir nuvens de possível chuva, num Verão que teimou em sê-lo...deitei o meu olhar no horizonte senti-me azul e terra e dia e noite e todas as estações. Deambulei pelas searas, fui guerreira, desânimo, choro e gargalhada. Quando esperei calor, gelei. Quando o Inverno estava à minha porta, escorri suor e deitei-me na chuva a refrescar os sentidos. Agora que olho estes prados ainda verdejantes, o pasto do amanhã, sinto-me gota de orvalho e por isso deixei de ter lágrimas. Vou ficar seca como a palha…mas será só um dia, mais tarde. Hoje permito-me o devaneio de olhar para traz, para o que fui ou não fui. Nem sei se rio ou choro ou nada, absolutamente nada de sentir o querer sentir. O ontem serve-me apenas para saber que hoje não vou voltar a ser assim amanhã. O que uma seara, que esconde videiras de vinho redondo, pode dizer e provocar apenas só por olhar.

O mesmo caminho..outra Estação


Esta estrada que me leva
Pelo acesso reservado aos meus passos
Em neblinas invernosas
Ou apenas sob mantos de folhagens primaveris.
Esta estrada que me leva
O olhar nos ventos cardeais
E aceita com a mesma vontade o meu passar
O meu corpo a pisar esta terra batida
A minha vontade de voltar
Sempre que eu quiser
Sempre que for Verão, ou Inverno
Outono de ramos nus
Ou Primavera de verdes e fartas veste.
Esta estrada que me leva
Este caminho meu e dos meus olhos
Como gosto de o reter nas batidas da minha emoção.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Os Sonhos não têm tecto


O céu não tem sol
As nuvens não têm chuva
O rio não tem barcos
Os carros não têm namorados
Os eléctricos não têm fins-de-semana
A Portugália não tem bons pregos
O Porto não teve pedalada
O domingo...já foi!*
* Clikada e Escrita num domingo de sair em Lisboa...

deita-te em mim, deita-me ao mar


deita-te em mim
quero sentir queimar
quero a pele no toque do fogo
no sal que queima a maré
porque no fim
de todas as contas deste mar
o querer estar aqui é como um logro
o que parece ser já não o é
nada é mais assim
tudo é ilusão de ser
o belo é só e apenas se eu quiser.

Reflexos de Ser


Sombras...reflexos da muralha que sou
Da obrigatoriedade de ser impenetravel
Da expectativa de ser forte e inabalavel
Sempre que na impassividade dos dias estou
Pedra a pedra, neste granítico compasso
Entre chorar de desespero e ser muro alto
Numa grosseira forma de viver para além do tempo

Espreita-me o Amanhecer


olhos nos olhos
queima-me o acordar
na retina raios mil
olho e vejo o mar
alucinação apenas
espreito pela fechadura
aqueço a alma e o olhar
sorrio ao azul subtil
de ser manhã de verão
numa luz brilhante e pura
em que não senti a tua mão

A Fugaz Sombra dos Dias


...Aquela que arde nos candeeiros apagados, que traga o céu inteiro de um só sopro, como se as folhas dos pinheiros fossem agulhas na carne rija dos anos novos, como se o suor escorresse de olhar esta emoção de fogo e não apenas do esforço quente de dois corpos a flutuar...

Oblíqua Luz da Manhã







Oblíqua luz da manhã
Pinta na íris
Nevoeiro que o horizonte
Não diz....
Portal de começar a existir
Para um dia de novas manhãs
Em que me espreguiço
E entreabro os olhos
Para dizer bom dia ao universo