sábado, 12 de janeiro de 2008

Corpo em curvatura








O tronco curva-se sobre a terra, rugosa a sua pele dos anos passados sobre o calor ardente do Alentejo, o frio extremo do inverno, as chuvas sacodidas pela ventania. Verde o musgo, vai subindo em conquista do tronco, formando um casaco que envolve e protege até que chegue o estio.

Rosas no deserto









Chamam-lhe a rosa do deserto. Não sei se por ser uma planta carnuda da familia dos cactos ou se pelos tons vermelhos do Sol do deserto ao cair da noite. Linda flor/cacto que se multiplica como se não houvesse amanhã e assume tonalidades desde o verde, aos mais variados tons de rosa e vermelho, diria mesmo que assume nuances sensuais, lembrando que o deserto do prazer acaba quando é "desflorada" a rosa e as tons vermelho rosado se abrem para os novos horizontes dos sentidos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A "minha" árvore está sempre lá









Desde que tenho memória, dar voltas ao Castelo teve sempre um sabor especial. As mães gostavam de "quadrilhar" um bocadinho em longas conversas de comadres, comiam figos de piteira e dos outros, enquanto nós, as primas andávamos em aventuras mil, pelos "bosques encantados" da verdejante mata. A pé, de bicicleta, de patins...subíamos árvores, colhíamos flores, por entre gargalhadas e às vezes uns socos e uns pontapés disfarçados, não fossem as mães dar por isso... e então era o bonito. E se era Verão, as amoras sujavam os dentes e a roupa e nós contentíssimas, como se os dias fossem uma sucessão de felicidades sem par e eram.


Mais tarde, mas não muito mais, casei. Tinha quinze anos. E lá vim de Lisboa em lua-de-mel, dar voltas ao Castelo, subir à torre do relógio, para em pose de quem queria parecer feliz, tirar as fotos da "praxe".Voltei, várias vezes como que em vidas diferentes. Voltei um dia para ficar...acho...não sei bem. Dei várias voltas ao Castelo. Para manter a linha, para namorar, para chorar, para passear as minhas crianças,para ver as várias formas que as árvores encontram para cumprimentar as estações.
Vi das ameias o nascer do sol, no alto das muralhas deitei-me ao pôr do mesmo, observei a cidade e os homens e as mulheres e as criançinhas e os outros...de cima do monte maior.

Depois chegou o Rui...Horta( energico "carneiro"), ocupou, em boa hora, o Castelo com os seus guerreiros e os seus subditos, dançou e encantou, coreografou e lá continua, assumiu a pose de Rei e Senhor, vidi,vini,vici...e dançai agora senhores que é hora de dançar!
Esplanada no Verão, raves e filmes...muita cultura numa terra de pouco pão. E que pena que do alto das ameias não se atirem pães e assim pudesse Deuladeu dançar mais aconchegada, numa terra onde se finge estar tudo bem e se enconde a pior das misérias a de não se saber lutar e pensar-se que sim.E mais uma voltinha ao castelo...

Num certo Maio, dentro de muralhas, fui "maga" medieval vestida de "marroquin" violeta e deitei as sortes, conheci o Mário do Vivarte( grande "carneiro" de sábias barbas), o João do Ambar, a Sandra e o seu orgasmático pão-de-rala, a Paulinha, o António, a Briolanja e um escultor de terra e barro, basco, cujo nome não me recordo, que falava de gnomos e do tempo dos últimos dragões e esculpia-os na terra como se lidasse com eles "tu cá, tu lá", a Zara cuja "mendiga" encantou, como aliás, todos os seus desempenhos e todas as suas personagens, e o puto do Vivarte que estava a descobrir o mundo, o visível e o outro e achava que eu tinha todas as respostas...a Elisa, enamorada do saltimbanco françês, que animava o povo como seu grupo, ao som de gaitas e pandeiretas e fazia os olhos da Elisa brilhar naquele lindo verde pardo, que era na altura, mais verde e menos pardo...comprei um anel com uma pedra violeta como o meu vestido e ainda hoje acho que tem uma magia especial...a de me transportar aos portais do que fui e moldar as artes do que sou....zanguei-me com o Jack...pela enézima vez...como tantas outras vezes depois, comi costela de novilho em sangue, medievalmente à mão e estava tão boa...e bebi chá na tenda do João das Arábias...chá de menta e especiarias e outras coisas que não sei, mas que deixavam um sorriso pateta estampado nas nossas caras, com um ruborzinho bom, quase erótico e um desejo escondido debaixo das saias...ai! que disparate...as coisas que ouso dizer....e comprei perpétuas roxas na tenda dos chás, para afinar a garganta e cantar.


Muito mais tarde...acho mesmo que noutra vida...dentro desta...voltei. Andei de mãos dadas a namorar como as "gaiatas"..apaixonada e doida de felicidade, a fotografar e a rir como se amanhã pudesse não estar lá... e era uma pena perder este momento único...ao lado do meu homem...amor como não tive igual...a outra metade de mim...que caminha comigo ainda e espero por toda a vida, calcorreando as clareiras do castelo que sou eu, dentro das muralhas de outro castelo...nesta terra onde fui feita..que é também a de meu Pai e do seu Pai, meu Avô...que me passeava ainda tropega por estes caminhos...por estes castelos de princesas e dragões. Neste castelo partilho paisagens e emoções, beijos e olhares de puro amor, agito os sentidos de fogo que sou eu e ele em turbilhões de felicidade e paz. Com ele aprendi o prazer de fotografar e espero aprender a técnica, reaprendi o prazer da escrita, que estava adormecido em tristeza, conheci o imenso prazer de me amar e de amar sublimemente o seu sorriso, o seu olhar, as suas mãos. Porque ele cabe todo dentro do meu abraço! Juntos partilhamos estes caminhos, este castelo, somos personagens de outros tempos, os dragões são nossos amigos e os gnomos brincam connosco às escondidas.Um dia voaremos, nas asas de um unicorneo branco, sobre este castelo encantado e ficará para sempre plasmada no universo a nossa felicidade.

Nestes anos todos, este castelo ergue-se e impõem-se espisódicamente na minha vida, os seus carreiros, as pedras velhas de tantas história, as árvores e a "minha" árvore, que desde que me lembro, está lá no cimo da estrada a olhar-me, com o seu tronco cotovelo apoiado no vento, que me olha como se me protegesse de algo que eu própria não sei o que é e que eu vou fotografando ao ritmo das estações...cheinha de folhas verdes, nua e de ramos retorcidos, ondulante e sacodida pelos ventos mais fortes deste Alentejo, que sabe ser muito frio, molhada do choro do céu saudoso do verão, beijada pelas papoilas lindas, estentidas aos seus pés como um tapete vermelho e aveludado...sempre lá...para que eu possa sorrir ao vê-la ou chorar aos seus pés os meus infortunios ou abraçar o seu tronco e trocar emoções e energias vigorosas. A "minha árvore" que eu só apresento pessoalmente a quem amo, fica aqui...virtualmente para o deleite dos vossos sentidos. Espero que gostem tanto dela como eu...e se a encontrarem um dia que venham a este Castelo, por terras de Montemor, deêm-lhe um beijo meu. Talvez ela vos conte um qualquer episódio da minha passagem por aqui.

Tesouros



















Guardados estão os tesouros de ser, por vezes tão fundo e em lugares tão obscuros, que nem entendemos que os vivemos, que os somos...Apreendemos por vezes, pelos olhos brilhantes das nossas crianças, pelo amor que nos visita de vez em quando pela vida fora,pelos mendigos que deshabitam as ruas onde fazemos compras, pelos pássaros que riscam o azul das nuvens, pela respiração ofegante depois do pesadelo...que existem tesouros inestimáveis e raramente os olhamos.

No meu caminho



No meu caminho, em perspectiva, estás tu, porque te escolhi ao encontrar-te na outra ponta de mim. Esta partilha de saberes, olhares e beijos, serão a tela multi-cromática dos nossos Invernos, mesmo quando se disfarçam de Outono, pintura digital do que vejo em ti, de ti, por ti.
As palavras tomam a forma de imagens e declamam poemas de cor e nostalgia. Já tenho saudades daquilo que vou ser contigo!

Espreito por trás do Sol


Quando o sol se cansa de ser belo, esconde-se. No horizonte, porém, teimosas cores desejam perdurar. Os nossos olhos deliciam-se em tal teimosia e desejam mais! Os desejos, esses prendem-se na teia do tempo e não nos resta mais nada que o olhar.