segunda-feira, 8 de novembro de 2010


abro a janela nos olhos
retinas onde fixas estão as memórias dos risos
piscar de olhos, portadas ao vento batendo ritmos cardíacos
abro a menina dos olhos
e riu-me da expressão...facial da menina dos olhos
é a expressão das janelas quando estão escancaradas e deixam a chuva entrar.
abro as pestanas duas a duas
bem me quer...mal me quer...num inquérito à vida que passa
e as de cima tocam nas de baixo...as pestanas
e concluem que por vezes a vida bem nos quer...outras não
abro os olhos todos
e a chuva que está dentro dos olhos verte-se
os vidros dos olhos...salpicados...olham a rua
e num vai e vem eterno a vida desfila risonha ou triste...
só o verei se deixar o olhar à janela.

para o meu nómada João
V


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010




Agitem-me as pálpebras entre as pestanas e as rugas da testa,
Quero ver por entre raios e coriscos e ramos e pedaços de céu,
Quero entender as palavras que a brisa transporta e balança entre folhas
E descodificar o assobio do vento no martelo do meu ouvido interno.

Levitem-me o corpo até à copa e deixem-me dormir no embalo da sesta,
Desfiando as pétalas aos pesadelos por entre copas escuras como breu,
Entendendo na manhã a perfeição e imperfeição de todas as minhas escolhas,
Distinguindo perfeitamente as lágrimas, o cansaço, as chamas deste inferno.

Porque quando chegar ao grito aberto de dizer: não presta!
Escutem-me os que tiverem ouvidos e destapem-me a revolta sem véu
Que todas estas vidas que vivi fizeram este corpo cansado que tu olhas
E deram-me o direito de ser corpo a corpo o poema que escrevo e alterno.